Admirável mundo novo


Um grupo de jovens cientistas acompanha o diretor pelas instalações do Centro de Incubação e Condicionamento de Londres. Sem rodeios somos apresentados ao processo Bokanovsky, de onde é possível produzir noventa e seis seres humanos saudáveis a partir de um único ovo, refletindo no que ele declara ser o progresso da humanidade. O processo que aparenta desumano é intenso e eficaz, o um ovo é exposto a raios X, o que provoca seu rompimento em mais dois ou até oito brotos, passado algum tempo são expostos ao frio, e mais brotos são gerados a partir dos antigos, após terem germinado eles são submetidos ao álcool e proliferam novamente; e após este duro processo são deixados em incubadoras para desenvolver-se.

O que este processo traz à tona? Uniformidade, no Admirável Mundo Novo nos é dito que com a bokanovskização, eles seriam aptos em desenvolver todo um pessoal capaz de trabalhar em uma pequena usina, e o melhor, em harmônia, pois todos seriam gêmeos e partilhariam dos mesmos genes.
— Noventa e seis gêmeos idênticos fazendo funcionar noventa e seis máquinas idênticas! - Sua voz estava quase trêmula de entusiasmo. — Sabe-se seguramente para onde se vai. Pela primeira vez na história.
Os cientistas se esforçam em superar a natureza, e se orgulham em ter o controle sobre essa nova forma de fazer humanos, durante o processo de decantação a maioria dos nascidos é estéril, exceto os selecionados para serem futuras doadoras de óvulos. E todos os bebês são decantados em um processo que se resume em “futuro carregador” ou “futuro líder”, que o autor Aldous Huxley define em castas, este processo é posto a cabo desde o primeiro período de desenvolvimento do embrião com a manutenção de mais ou menos oxigênio, assim eles definem aqueles que terão uma inteligência mais avançada.

Mas isto não é tudo, ao exporem certos embriões a correntes de calor ou frio em túneis especiais, eles despertam neste futuro ser a vontade de seguir para regiões tropicais, onde há calor, e assim serem mineiros e operários.
— E esse — interveio sentenciosamente o Diretor — é o segredo da felicidade e da virtude: amar o que se é obrigado a fazer. Tal é a finalidade de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social a que não podem escapar.
Paralelamente seguimos a estória de Lenina Crowne, uma enfermeira que está sendo criticada por Fanny ao manter encontros com um único parceiro por mais de quatro meses, no Admirável Mundo Novo todas as pessoas são instigadas a não criarem laços afetivos, não existe mais o conceito de maternidade ou monogamia, é o fim da propriedade sobre outra pessoa; cada um pertence a todos. Só há uma regra, Alfas e Betas não se relacionam com Gamas, Deltas e Ípsilon, pois estão muito abaixo de sua inteligência.

O consumismo é encorajado em grande escala, o que não difere muito do que vivemos atualmente, onde comprar um novo parece ser bem mais atraente que consertar ou permanecer um tempo demasiado com o antigo. As crianças enquanto dormem, ouvem vozes que as orientam repetidamente “Mais vale acabar que consertar”.

Há algo de errado com Bernard Marx, ele é visivelmente apaixonado por Lenina Crowne, um sentimento que deveria estar extinto, e seus trejeitos diferem dos outros embora seja um Alfa, a mais alta casta. Para o deixar mais estranho, Bernard, não faz uso de soma (uma droga sem efeitos colaterais que aniquila os sentimentos infelizes e dúvidas, é constantemente usada pelos jovens).

Lenina decide então aceitar o convite de Bernard para sair, coisa recebida com estranheza por seus amigos, já que Lenina selecionava apenas os mais belos rapazes para manter suas relações, contudo ela se sente atraída pelo jeito incomum de Bernard. É claro que os dois parecem não se encaixar, Bernard questiona toda essa semelhança entre as pessoas, e diz gostar de ser individual e agir por si mesmo e não como parte de um grupo idêntico. Porém ele cede as investidas de Lenina e se entrega a droga soma, logo após eles fazem sexo.

A moça se sente à vontade em acompanhar Bernard a uma reserva no Novo México, onde vivem os selvagens, uma conotação bem clara de que no romance a América do Sul é considerada um ambiente pouco desenvolvido.

O casal é levado a um povo indígena em Malpaís, Lenina fica chocada com a falta de higiene em comparação a civilização, além dos modos selvagens, e a forma como os velhos são alquebrados (algo que não existe nas grandes capitais, pois eles mantém certos tratamentos que retardam o envelhecimento). Mas o que mais lhes impressiona é um ritual com cobras e sangue, fortemente relacionado ao cristianismo e a crucificação de cristo, o que é rude aos olhos do casal que não conhece o cristianismo.

As peculiaridades do Admirável Mundo Novo encantam um jovem índio chamado John, a quem Bernard propõem levar para Londres em seu regresso, porém há mais envolvido nesta viagem de volta do que apenas a boa vontade de Bernard.

E ao decorrer do livro Bernard se torna mais arrogante, pois seu status no centro tem aumentado, ele trouxe um selvagem, e todos querem conhecê-lo, estudá-lo, mas a presunção de Bernard é logo derrubada pelo comportamento de John (o selvagem) que se recusa a se mostrar como um animal. Ínterim temos o grande apresso que Lenina cria por John, ele é bonito aos seus olhos e ele corresponde ao sentimento, embora de forma tímida.

Aldous Huxley criou um mundo ao contrário como podemos ver, onde amamentar é insano e desrespeitoso, as mães não existem, e chamar alguém por este apelido é ofensivo, não há Deus ou cristianismo, nem guerras ou heróis, e as pessoas aprendem a aceitar a morte desde pequenas, do outro lado temos a descoberto do nosso próprio mundo, o que vivemos; é como olhar com outros olhos, me arrisco em dizer que a obra de Aldous é tão moderna e realista que chega a ser preocupante, haverá um mundo novo como este? É provável que em algum futuro o Estado chegará ao ponto de eleger quem será o mais inteligente, o operário, o carregador ou o cientista desde bebê, e além disto lhes tirar o livre-arbítrio? Parece absurdo, mas isso era inquietante para Aldous Huxley o que o motivou a escrever este livro. Tomo as palavras de John:
— Pois bem, eu preferiria ser infeliz a ter essa espécie de felicidade falsa e mentirosa que você gozava aqui.
A todos os fãs de Ficção Científica eu aconselho devorar o Admirável Mundo Novo e descobrir, por conta própria, as experiências de Mustafá Mond, suas conclusões, e o desfecho inesperado desta estória.
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